terça-feira, 14 de abril de 2015

Quase







Já não sei fazer de conta
Que sei escrever poemas
Estou cansada
Das palavras repetidas
Das somas somadas das sombras


Tudo o que tenho feito é inventar
Um ilusionismo sem qualquer ilusão


Estou cansada de me cansar ao pensar
E... já não sei fazer de conta


Mas um verso pode encerrar tanta existência
Dissipar os lugares escuros
Elevar-nos sem refúgios
Contradizer a exactidão do termo 


E mesmo sem saber conceber tanto                                                        
Nas palavras tantas vezes fatigadas
Reditas na mesma consonância
Vou fazer de conta


Que quase é,
Poesia


domingo, 8 de março de 2015

Sibilinamente






Subitamente cessam as sílabas,
Silentes, comprimem-se oprimidas,
Sufocam-se silenciosamente, umas e outras,
Enredam-se como raízes,
Elevam-se ascendentemente,
Sibilinamente pertíssimo     da voz


Suprimida, a sílaba escuta-se retida,
Repetida, repetidamente,
(Infinitamente)


Dos ecos excedentes surde o silêncio,
Enunciando o eloquente ruído da sílaba muda,
Em sua retirada presença 


Ausente, a sílaba segmenta-se,
Subleva-se em díspar proporção,
Ressurge ímpar significado 


Sílabas perfeitamente soletradas
Inversamente des-construídas
Em progressiva reconstrução


Sucessivamente, as sílabas soltam-se num murmúrio flamejante
Como prece,  
Descendem sobre a hora provável,
Pertíssimo do prometimento,
Sibilinamente sol



segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Alumiação






Há uma claridade que me cinge
                                   Ampara
Rediz
Sobrepõe-se em imagens


Distende
Em muda linguagem
todos os sons
todos os lugares
        Como miragem


Irrompe uma fortaleza
no olhar
Caem pedras-de-fogo
                de mundos
Muros em eterna reconstrução
Obstinação
             

Fragmento em tempo
Num circular espaço 
     Sem lugar algum
     Que é lugar meu


Remanescentes
Glórias 


Esperas e crença
Como uma sombra na mão
      De uma Luminescência…




sábado, 22 de novembro de 2014

Inconstância






 Uma inconstante constância
 Irrompe e rompe
 Em réplicas
 Um sismo fragmenta-se
                        Sustendo ruínas inabitadas


 Uma brisa / move / um mundo / de vidro


      (não suspires
               não te movas… )


 A inconstância verte
            O ruidoso passo
 de uma memória oposta,
 sem  verdade


 Alastra-se o fogo pela rua
 Na transparência de um mundo
 Fragmentado


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Travessia









Sem som
Sem vento
        Sem continuidade
Sequer o mínimo momento
                      Ou espaço- fala

Cedo apenas
A imensidão de uma metade quebrada
A palavra esquecida no deserto

Um tempo nada em vago tempo
                                Em demasia

Um lugar inexistente 
Sem claridade
Sem sombra
Sequer uma partícula de pó

Apenas um desordenado traço
em ruída rua


Ascendendo imperativa travessia


quinta-feira, 17 de julho de 2014

In (Concreto)










Queria percorrer o verso
Escrever o concreto sem na verdade ser
Ser a leveza das pedras por onde passo

Contudo, só verso escorrido
Tela imersa em óleo fumegante

A mesma palavra fragmentada
Minúsculas incisões inscritas
Que de tão concretas são vagas   
                                       entre
                                       n
                                      tempo
                             (Nosoma-nosomos )

Talvez,
            Inventar uma esquina
            Uma janela nunca desenhada
Delimitar um espaço
Reinventar um alfabeto
Uma rua onde o tempo não se propaga

Demonstrar que tempestade, nem sempre é ventania


quarta-feira, 28 de maio de 2014

Inspiração






Inspiração
Ins   pi   ra  ção 
Repete
Expira-me
Crê
Cria
Versícula-me



Ainda ontem não sabia que amanhecia
Que meu verso seria o teu
Que no espaço de um corpo todo um poema
Respira


Ainda ontem não sabia das estrelas infindas
na sombra da noite



Encerra as pálpebras
Toda a criação vem do pensamento inspirado
Inspira    
Expira
Respira-me