terça-feira, 29 de outubro de 2013

Entardece






Anoitece

                 Cerra o dia


Caem verbos sem destino


 Sem destino tempo sonho


 Adormeço e faz-se noite


 Espero presenciar através de um vitral


                   Tempestades sem dias



 Antevejo

 Chuva quente

               Inerte vendaval

 Quem sabe passo intemporal

                                Em nua cor



Cerro as pálpebras

              Que não cerram

   Afasto o som

              Que escuto em eco



Anoitece  Anoitece

          A noite tece
(e eu teço sem linha)



Há uma rosa por colher

Arvoredos cerram o horizonte

                                     Cai o dia


 Diante ao vento

               Que se estende

Tarde se fez… e ainda vejo


Purpúrea  denúncia

             Nas mãos frias, gota a gota

Colhi o espinho

                     E anoitece…



9 comentários:

  1. A medida que fui lendo este teu imenso poema, fui tecida pelo sentir

    de profundidade a contemplar o tempo do dia, que entardece, escurecendo

    um espaço de nua cor e sobrepondo a um silêncio restaurador.

    A dimensão da beleza da tua poesia sempre reflete. Encontro assim

    a possibilidade do sonho colhido em luminosa rosa que renascerá em cor...

    Belíssimo e tocante, querida Maria!

    Beijinhos,amiga.

    PS: Estava muito saudosa de ler-te...

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  2. A imagem escolhida reflete a beleza e intensidade do poema...

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  3. Entardecemos
    nos reflexos de um vitral
    no interior de um sonho sem destino
    Onde anoitecemos num tempo inerte
    No eco afastado de um verso intemporal

    Escrevo e faz-se noite


    São purpúreas denúncias
    rasgadas entre horizontes (cerrados),
    São caminhos que se estendem
    como espinhos (sangrantes)

    Escrevo
    Faz-se noite

    ------------------------------------

    Um belo poema que vem de dentro embalado na dor

    Bjo.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Quando a noite está em nós, nunca "amadruguesse"...
    Gosto sempre de vir aqui visitar-te e ler a tua intensidade!
    Um beijinho

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  6. Entardecem as palavras mudas, os sentires que rasgam o peito, entardece o coração e no coração dos homens. No dia, na noite, na alma, nascerão sempre os sentires que, de forma bela ou dolorosa, escrevem de nós e do mundo.

    abraço
    cecilia

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  7. Olá Maria João, o seu poema tem um quê de beleza catastrófica, adorei a metáfora "caem verbos sem destino"...
    Beijinho, uma doce semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  8. Muito belo o seu poema...Espectacular....
    Cumprimentos

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  9. Pressinto que a intempérie devassa o poema, mas apesar da dor que cerra o dia, vislumbro uma rosa por colher. Uma rosa que exala o perfume de uma excelente poesia.
    Beijo, querida amiga Maria João.

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